Muitos condomínios, em prédios antigos, preocupados em dar uma roupagem moderna e nobre à construção - alem, é claro, de buscar uma manutenção mais fácil das fachadas - acabam por ceder à tentação de trocar o revestimento original (quase sempre argamassas "raspadas" ou rebocos pintados, apresentando trincas, algumas infiltrações, colônias de fungos ou musgos e deposições de poeira) pelo "pastilhamento" geral. O assunto tem gerado intensa discussão, no meio técnico, merecendo abordagem que envolve bom-senso, ética profissional e muita cautela:
Não há objeções quanto ao produto a ser utilizado, seja ele a famosa "pastilha" (ladrilho porcelânico de grés), lousa cerâmica, azulejo, litocerâmica, tijoleiras, etc. Contudo, é fundamental que o consumidor esteja ciente de que a absorção de água, bem como as resistências mecânica (impacto, compressão, flexão), à abrasão, à gretagem, aos choques térmicos, ao frio intenso e à formação de manchas por ataques químicos variam, de forma acentuada, de um produto para outro. Segundo informações da ANFACER (Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimento), os produtos cerâmicos estão enquadrados em 5 ( cinco ) grupos principais:
1) Porcelanatos ; 2) Grés ; 3) Semi-grés ; 4) Semi-porosos e 5) Porosos. É preciso ter especial cuidado com a escolha da cerâmica a ser aplicada, notadamente no que se refere à absorção de água, observada a seguinte tabela, fornecida pela mencionada associação de fabricantes:
PRODUTO | ABSORÇÃO DE ÁGUA. ( % ) | CARACTERÍSTICA DA ABSORÇÃO |
PORCELANATO | 0 a 0,5 | quase nula |
GRÉS ("PASTILHA") | 0,5 a 3 | baixa |
SEMI - GRÉS | 3 a 6 | média |
SEMI - POROSO | 6 a 10 | média alta |
POROSO | 10 a 20 | alta |
Conclui-se, portanto, que o ladrilho porcelânico de grés (comumente chamado de "pastilha"), apresenta-se como um dos melhores produtos, sob o ponto de vista da absorção de água (embora os demais quesitos, citados devam ser considerados, atenta e cuidadosamente, na escolha final do produto). Eis, portanto, o primeiro e essencial cuidado.
Qualquer um pode perceber a diferença, entre cores escuras e claras, sob ação do sol. Basta lembrar simples experiências com automóveis, ou roupas, longamente expostos à insolação: cores escuras absorvem calor, enquanto que cores mais claras, refletindo a luz, aquecem menos. Com os revestimentos externos, sucede exatamente o mesmo: o prédio, ao absorver calor, sofrerá mais fissuras e, com elas, maior absorção de chuvas. Assim, eis o segundo cuidado, no caminho até o "pastilhamento": superfícies externas, nas faces voltadas para leste, norte e oeste,devem ser predominantemente claras.
Antes de prosseguir, o condomínio deveria verificar a idade do revestimento "velho" (comumente sujo e feio) e se nele existem focos, de infiltração, umedecendo as faces internas das paredes. Se tais focos não existem (ou, se são discretos), seria legítimo considerar a possibilidade de uma reforma que "não mexa no time que está ganhando"; ou seja : admitir a hipótese de uma restauração externa que preserve a "ampla porosidade" do revestimento e, pelo menos, a mesma longevidade. É fácil entender a razão deste conselho: fachadas funcionam como toalhas, que precisam secar após o banho; as donas-de-casa sabem muito bem o que acontece a uma toalha úmida, no varal, se sobre ela for colocada manta, de plástico, ainda que fartamente perfurada: secará apenas pelos orifícios (ficando com "cheiro de vira-latas na chuva"..) Revestimentos externos mais antigos (argamassas + pintura) umedecem segundo todos os poros e secam, uniforme e rapidamente, pelos mesmos orifícios. Em fachadas cobertas com cerâmica, contudo, a água da chuva é absorvida pelos rejuntes e, para sair (por evaporação) enfrenta uma espécie de "abafamento", evaporando, apenas (e muito lentamente), pelos mesmos rejuntes de ingresso, já que as lousas são estanques (literalmente impermeáveis) e predominam nas superfícies; não é preciso ser um "expert" para concluir que a água, assim bloqueada, tenderá a evaporar, com mais facilidade, pela face interna da parede, arruinando armários ou pinturas e gerando colônias de fungos. E, aí , não é raro surgir algum "especialista", que apontará a umidade urbana como única e exclusiva "culpada" pelas proliferações de bolores, ácaros e pulgões, pelas rinites e crises de asma, pelas alergias de pele, etc.
Se, com tudo isso, ainda permanecer, inabalado, o objetivo de "pastilhar" o edifício , o condomínio deverá estar ciente de que, na colocação das lousas cerâmicas - como se diz na gíria - " o bicho pega ". Na verdade, é preciso destacar, aqui, alguns pontos de fundamental importância :
A) O revestimento cerâmico deve possuir juntas especiais("NBR-13755"), também chamadas "de movimentação" ou "de dessolidarização". Tais juntas devem ser abertas, no corpo da parede, até o plano dos tijolos, formando painéis, de apropriadas dimensões (segundo projeto específico ou catálogo do fabricante), capazes de dissipar inevitáveis deformações mecânicas (cisalhamentos, expansão das lousas por absorção de umidade, etc )que serão impostas à nova "pele dura" das fachadas.
B) O revestimento original, caso não removido, deverá ser previamente lavado e profundamente ranhurado, para correta ancoragem das lousas.
C) A superfície deve ser umedecida - sem saturação - antes de iniciada cada fase do novo revestimento (apesar de muitos considerarem "desnecessário", é absurdo negar o caráter benéfico da medida; como defendido, aliás, pelo renomado Prof.Engº Antônio Fiorito).
D) O assentamento deverá ser efetuado com argamassa prefabricada, do tipo "colante", para superfícies externas, observadas, com extremo rigor, as instruções do fabricante (condições climáticas durante o trabalho, quantidades de massa em função da velocidade de aplicação, formação de película, ferramental próprio, tempos de cura, etc, etc ).
E) Os rejuntes, entre as lousas, também devem ser prefabricados, de alta adesividade e aditivados com polímeros, para que possam "trabalhar", em cada painel formado pelas juntas, sem sofrer esmagamento.
F) Após completa cura das argamassas (assentamentos e rejuntes), as superfícies devem ser "hidrofugadas"; ou seja ; devem receber vedação ou impermeabilização especial, incolor e penetrante, com preferência para produtos à base de silano/siloxano. Cabe advertir, aqui, contra o uso - muito difundido no mercado aconselhado por "palpiteiros" - de repelentes superficiais siliconados, formadores de película, pois estes são fotossensíveis (desagregam sob ação do sol)e podem gerar, no futuro, graves problemas para as fachadas.
G) Finalmente, as "juntas de movimentação" devem ser limpas, desengorduradas (sugere-se evitar "thinner" e usar metiletilcetona) e vedadas com mástique de silicone, pigmentado, de elasticidade permanente.
Alem das etapas, anteriormente descritas, devem ser observados, na contratação do colocador - alem do prévio e adequado aconselhamento por um advogado - os seguintes requisitos :
1) Firma especializada, com fartas referências de clientes anteriores.
2) Responsável técnico (CREA) integrando o contrato social da empresa.
3) Adequados equipamentos de proteção individual e de segurança.
4) Comprovação de seguros(vida e danos), para empregados e terceiros.
5) Transcrição, no corpo do contrato, de todas as especificações, tanto de produtos como dos procedimentos técnicos anteriormente descritos.
Como se percebe, a opção pelo "pastilhamento" será como tocar violino: com elevada maestria, nada mais suave e majestoso ; sem maestria (mesmo "no capricho"), nada será mais inadequado e lamentável.
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