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Divisórias de Gesso Acartonado: consumidor brasileiro está desinformado

Impossível negar que as divisórias de gesso acartonado vieram para ficar, pois suas características e virtudes - funcionais ou estéticas - são inquestionáveis. Alem disto, os principais fabricantes e/ou distribuidores, no Brasil, têm praticado detalhes capazes de conferir razoável isolamento acústico, boa estanqueidade em pisos úmidos, bem como reforços localizados, "inserts" ou buchas especiais, etc, que permitem suportar cargas pouco convencionais.

Contudo - como acontece com muitos excelentes remédios -, o produto possui vulnerabilidades ou riscos que deveriam ser (e não têm sido) comunicados aos cidadãos adquirentes de escritórios, ou de apartamentos, principalmente nas grandes capitais brasileiras. Assim, para conhecimento e manifestação dos profissionais do ramo e de entidades públicas envolvidas, coloco as seguintes observações:

1º - O consumidor não está sendo alertado sobre o potente estímulo à proliferação de insetos (principalmente traças!) nos vazios dos painéis, onde o seguro e farto abrigo se alia a paredes comestíveis. Tenho testemunhado esta e várias outras infestações, ao longo de minha atuação, nos últimos anos, como perito em patologias da construção civil.

2º - Sobre guarnições de portas que integram tais divisórias, cumpre notar que aquelas saem, de fábrica, suficientemente imunizadas. Contudo, durante as montagens, artífices vários ou afoitos empreiteiros costumam inserir uma infinidade de barrotes, sarrafos ou pedaços de tábuas - sem qualquer tratamento inseticida - para fixações de tubos, caixas de descarga, quadros de luz, eletrodutos, tomadas, interruptores, etc, etc; o desavisado consumidor, que compra o "gato ensacado", jamais saberá o volume de tais apetitosos recheios, reservados a futuros cupins e outros vorazes insetos.

3º - O discurso (praticado pelos fabricantes nacionais do produto) sobre o amplo e antigo uso dessa divisória no exterior, principalmente nos Estados Unidos, esbarra em três e primários contra-argumentos:

A) O "drywall", na terra do Tio Sam, é o centésimo convidado para um "baile" que dura há muitas décadas, pois é sabido que parte dominante das moradias norte-americanas é erguida em madeira, com paredes duplas as mais sofisticadas. Sucede que essa tradição da madeira criou, naquele país, a já antiga e sólida cultura do "pest-control": significa que qualquer pequeno povoado, no interior dos EUA, possui várias empresas especializadas no combate aos inúmeros insetos e fungos que atacam a madeira (ou nela apenas se abrigam), sendo que algumas chegam ao requinte de exterminar colônias, nos vazios dos painéis, com aparelhos portáteis de micro-ondas!...

B) Apesar de toda essa parafernália (que custa muito caro para os consumidores), as infestações de insetos na Califórnia, Texas, Flórida e Luisiânia (estados americanos mais quentes e/ou úmidos) já se converteram em literais e muito onerosas endemias, forçando os governos a montar e manter programas especiais de orientação, assistência e, até, subvenções aos cidadãos, para os quais canalizam enormes verbas; quem duvidar, e puder navegar na Internet, tente um bom site de busca, conjugando os parâmetros "USA" + "pest control", "drywall + silverfish" ou vinculações afins.

C) O que dizer, portanto, do consumidor brasileiro, habitante de um país cujo clima (na média) faria a Flórida parecer um freezer? Resta alguma dúvida sobre o fantástico estímulo reprodutor que cupins, brocas, traças, aranhas marrons e outros "animais perversos" estão encontrando em nossa tropical e cálida Pindorama? Conseguirá o cidadão tupiniquim "dedetizar" os confinados e inacessíveis vazios das "drywall", num Brasil sem qualquer tradição de eficácia na área de "pest control"? Não seria, esta, uma característica daquele produto a ser revelada, sempre e honestamente, aos mutuários da habitação popular e aos demais adquirentes de imóveis?

4º - O meio técnico vem assistindo uma direta interferência, das produtoras/vendedoras de "drywall", tanto nas publicações técnicas (anúncios artigos respaldados por renomados profissionais) como nas modificações dos mais recentes partidos de cálculo estrutural (banimento de vigas + exaltação das lajes-cogumelo + contrapiso "zero", etc). Será descabido dizer que essas novas geometrias estruturais tenderão a gerar deformações lentas mais acentuadas e, na seqüência, mais fissuras em alvenarias periféricas, com agravamentos das atuais infiltrações de chuva, o que elevará, também, riscos de insalubridades internas, de descolamentos de revestimentos por espoliação de cales e de corrosões em armaduras?

A omissão dessas questões, desde a fase de projetos até execuções de obras e pesquisas de pós-ocupação - notadamente pela CEF e por demais entidades envolvidas coma moradias populares -, constitui postura imperdoável, seja sob o enquadramento ético da inequívoca desinformação existente, seja pela necessidade de preservar a essencial higiene (saúde) das habitações.

Sylvio Nogueira
Ex-professor universitário (PUC/PR)
Bolsista do DAAD junto à Technische Hochschule Stuttgart / Alemanha
Perito/assistente técnico em ações judiciais, na área de patologias prediais
e-mail: snogueira@bbs2.sul.com.br

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Comentários

Parede de Gesso
PRECISO DE ajuda, quer dizer nem sei se vai poder tirar essa dúvidaa, eu to desesperada (nem sei se preciso estar, mas estou). O caso é o seguinte: Desconfiávamos que algumas paredes do apê eram de gesso, agora que começou a quebradeira, foi confirmado e é, ainda não fui lá ver mas já danificou uma parte. Tipo o que eu faço?! A ideia era arrancar o azulejo todo, abrir porta, fechar porta, completar uma parede que nao era toda e queremos fechar para fazer um comodo. Poderia colar azulejo sobre azulejo mas e na parte que eu quero arrancar o azulejo para poder pintar o que eu faço?! E para completar uma parede , completo com tijolo ou com parede de gesso mesmo? Será que vai poder me ajudar...? Eu vou daqui a pouco lá no apê estou com medo do que eu vou ver! grata se puder me dá uma luz. As soluções que o pedreiro deu eu nao gostei.

Comentado por cristina em 2011-08-09 20:05:02

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